08 outubro 2009

Entrevista a Luís Marono


Prosseguindo a série de entrevistas que o blog iniciou há algum tempo desta vez publica-se uma entrevista realizada a Luís Marono, uma figura do clube, que já desempenhou várias funções no Redondense e actualmente treina as Escolinhas do clube.Confira as respostas já a seguir.

Blog - O Luís foi jogador do Redondense durante vários anos e mais tarde viria a ser treinador da equipa sénior. Quais são as diferenças que notou no futebol distrital de uma altura para a outra?
Luís Marono - As grandes diferenças estão relacionadas na minha maneira de ver em dois factores muito importantes:
O primeiro estará relacionado directamente com a evolução do treino, hoje em dia as condições e a qualidade do treino, felizmente nada têm a ver com as que existiam á uns anos a esta parte.
A segunda quanto a mim é de carácter social, que tem os seus prós e contras, e que para o futebol propriamente dito são mais contras que prós.
Nos meus tempos de jogador, nós atletas do RFC não tínhamos tanta oferta, não tínhamos tanta diversão e dedicava-mo-nos mais ao treino, dava a sensação que gostávamos mais do clube, defendíamos a camisola como se fosse a própria vida, e penso que éramos mais unidos. Não trocávamos de clube todas as épocas, quem vinha de fora normalmente ficava vários anos. Havia mais amizade, mas atenção isto não é nenhuma critica, é aquilo que eu sinto, não passa de uma opinião pessoal, e vale o que vale.
Penso que os campeonatos distritais eram mais equilibrados, havia mais equipas a lutar pelo título, acho que o campeonato distrital perdeu competitividade, nos últimos anos a discussão do título é a 2/3 no máximo a 4 equipas. E aqui penso que o papel da oferta é determinante.

Blog - Depois de treinar a equipa sénior o Luís voltou a treinar equipas das camadas jovens do Redondense repetindo a experiência de vários anos no Juventude. Isto deveu-se a uma desilusão com a experiência no futebol sénior ou foi mesmo um regresso àquilo que mais o estimula no futebol?
Luis Marono - Não foi de forma alguma desilusão, foram vários factores que contribuíram para o meu regresso aquilo que mais gosto de fazer. Um dos quais foi a minha vida profissional que desde 2005 não se coaduna com o futebol sénior, pois como sabes estou colocado em Lisboa e a distância de certa forma me limita o tempo. Outro dos factores é e isso não o posso negar, o gosto que eu tenho em trabalhar com crianças, para os quais eu me sinto com alguma vocação.

Blog - Enquanto foi director do futebol juvenil do Redondense surgiu um projecto em que o Redondense e o Montoito dividiram os escalões de formação. Este projecto foi uma opção do Redondense ou foi uma imposição?
Luís Marono - Claro que não foi imposição, foi a solução que encontramos para resolver um problema de certa forma complexo com que R.F.C. e Montoito se depararam.
Na altura nem o RFC nem o Montoito tinham miúdos suficientes para inscrever equipas nos respectivos escalões, então pensamos e a meu ver bem, o RFC inscrevia uma equipa de Infantis com os miúdos de Redondo e Montoito, e o Montoito inscrevia uma de iniciados com os miúdos de Montoito e de Redondo. Só assim era possível, de outra forma nem RFC nem Montoito teriam miúdos para os respectivos escalões. Aliás neste momento passasse algo de parecido nos escalões de formação do RFC. Não havendo miúdos suficientes no Escalão de Infantis nem de Juvenis, o Departamento de Futebol Juvenil do RFC decidiu, e a meu ver bem, Inscrever os miúdos nos escalões acima. Foi a forma de dar competição aos miúdos sem ser necessário sair da terra.

Blog - Quando o Luís foi director do futebol juvenil o Redondense organizou o 1º Seminário – “Um dia com a formação do jovem futebolista”. Este evento teve a adesão esperada?
Luís Marono - Não, infelizmente não. Ainda hoje me questiono o que falhou, ou ,o que eu fiz de mal feito para a adesão ter sido tão fraca.
Pois tenho a certeza, e o feed back, que tive após o seminário assim o indica, tenho a certeza que o RFC fez tudo o que estava ao seu alcance para que a adesão fosse maior.
Não tenho duvidas nenhumas que os conteúdos eram os mais interessantes, assim como os prelectores eram pessoas conceituadas e com experiência na área do treino desportivo com jovens.
Hoje, passado algum tempo ainda me questiono se terá sido a data que não foi a mais adequada, ou se terá sido o preço da inscrição, ainda que ficasse aquém dos preços praticados na altura.

Blog - Considera que o Redondense deveria repetir este tipo de evento?
Luís Marono - Só não considero, como acho de todo pertinente voltar a fazer outro seminário. E desta vez porque não com uma componente prática.

Blog - Nos últimos anos o Luís tem treinado as escolinhas do Redondense. Quais os objectivos deste escalão?
Luís Marono - Os objectivos deste escalão são claros, passa por encontrar um espaço para que os nossos meninos possam fazer aquilo que gostam. Passa por lhe proporcionar 2/3 horas semanais diferentes, vivendo em grupo, repartindo uma bola, um espaço e ao mesmo tempo ensinando-lhes a aprender a gostar do RFC. Hoje em dia devido á sociedade egoísta que temos penso que é cada vez mais urgente ensinar estas crianças a dividir, a repartir a viver em comunidade.

Blog - Os escalões mais jovens do Redondense, nomeadamente as escolas e os infantis, têm garantido boas classificações nos campeonatos com muitos jogadores que trabalharam consigo nas escolinhas. Isto é um bom incentivo para as crianças que agora começam a trabalhar nas escolinhas?
Luís Marono - Pois, a essa parte eu não ligo muito, porque estarmos a falar de classificações em miúdos de 5/6/7 anos, acho que estamos a esquecer um pouco a formação. Com isto tudo não digo que não seja importante, mas não é o mais importante seguramente.
Nestas idades prefiro deixar os termos derrota, vitória e classificação para mais tarde, prefiro dar mais atenção ás qualidades humanas.
Mas atenção, aceito perfeitamente que seja um incentivo extra para as crianças jogarem numa equipa vencedora, mas que fazemos aqueles que não têm condições de jogar nessa equipa? Dizemos-lhe “Desculpa tu não tens qualidades… não tens jeito… não sabes…não podes estar conosco..não te podemos inscrever” ? Deitamos por terra todas as expectativas que esses miúdos têm?
Será essa a nossa função? Ou será receber-mos todos da mesma forma e criar condições para todos iguais?

Blog - O ano passado a AFE criou o programa “Joga à Bola”. Este programa veio suprir um buraco “competitivo” que existia neste escalão?
Luís Marono - Para mim, foi das decisões mais sensatas que o departamento técnico
da AFE em parceria com alguns clubes, dois quais o RFC se orgulha de fazer parte, fez nos últimos tempos.
Não veio suprir buraco nenhum, veio foi criar condições a centenas de miúdos de poder jogar com alguém que não seja o vizinho, o colega da escola ou até o familiar, veio proporcionar tardes divertidas e de são convívio a centenas de miúdos durante a época toda.

Blog - No ano passado o Convívio do programa “Joga à Bola” organizado pelo Redondense foi o quarto com menor participação (194 atletas), contudo as críticas dos participantes, assim como da AFE foram muito positivas. Quais as expectativas para o convívio deste ano que terá lugar no fim-de-semana de 16 e 17 de Janeiro?
Luís Marono - Em relação á época passada, a única certeza que tenho é que o RFC se empenhou ao máximo para que o convívio por nós realizado respondesse ás expectativas e que todos os participantes se sentissem bem, e aqui, penso que todos foram unânimes.
Em relação á próxima edição, estou em crer que o RFC tudo fará para que o bom nome do clube seja honrado, e tudo fará para proporcionar um dia diferente a todos quantos nos visitarem.

Blog - Este ano o programa “Joga à Bola” introduz uma novidade que é a possibilidade de atribuir um ou dois golden cards (convite de participação a clubes que não estejam inscritos no programa). O Redondense já decidiu a quem irá atribuir estes convites?
Luís Marono - Não, o RFC ainda não decidiu se vai convidar e quem vai convidar, como sabes o nosso convívio só se realiza em Janeiro, como tal temos muito tempo para ponderar tais convites.

Blog - Considera que os sócios e adeptos do Redondense têm dado o devido apoio ao futebol de formação do Clube?
Luís Marono - Será certamente o possível, o devido não é certamente, porque todos nós queremos sempre mais, nunca estamos satisfeitos com o que temos.
Mas tenho a certeza que as centenas de miúdos que todos os fins de semana pisam o sintético do calvário gostariam de ver as bancadas cheias, mas cheias de gente que apoiem verdadeiramente, gente que não desvirtue o desportivismo, gente que não confunda apoio com comportamentos menos adequados á prática desportiva..
Mas nesse aspecto penso que temos os melhores adeptos da região, e que apoiam como podem e quando podem.